A Copa do Mundo de Futebol de 2014 e Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016 em nosso país são as provas de como a comunidade internacional reconhece as grandezas do Brasil. Mas será que os brasileiros reconhecem o seu valor como nação? Será que estaremos nós preparados para adentrar no rol dos países desenvolvidos? Ou será que deixaremos mais uma vez o nosso “complexo de vira-lata” atrapalhar nossa caminhada rumo ao panteão das grandes nações?
A expressão cunhada por Nelson Rodrigues às vésperas da Copa de 1958 para definir a baixa autoestima crônica do brasileiro perante aos demais povos – complexo de viralata – pode estar com seus dias contados. Tudo depende de como nosso povo e nossos políticos irão proceder diante de uma oportunidade histórica que surge em nosso país. Nàquela época, após a vitória na Suécia, chegou-se cogitar o fim de tal complexo. Enfim, estávamos livres de tamanha desventura. Tínhamos agora um feito para nos orgulhar, algo que nos permitisse erguer a cabeça e estampar nossos sorrisos internacionalmente.
Por certo, após 58, com a sequência de vitórias em Copas do Mundo, e o desfile dos campeões em carros de bombeiros, se consolidou a associação do orgulho nacional ao ludopédio. Mas será que de fato havíamos extinguindo nossa baixa autoestima? Ou só optamos por nos esconder atrás de fatos contra os quais não há argumentos negativos? Somos mesmos tão patriotas fora das Copas do Mundo? Defendemos nossa nação, ou destacamos e nos atormentamos com as “mazelas” nacionais? Fruto de ignorância ou preconceito, a baixa autoestima para assuntos internacionais é algo tão evidente no brasileiro a ponto de poder ser classificado como uma das grandes características do nosso povo, juntamente como a pluralidade e a alegria.
Finalmente, após de mais de meio século o esporte nos oferece novamente a chance de ocupar lugar de destaque no cenário mundial. Nos dias de hoje, com o planeta todo conectado e as distâncias encurtadas, somente o fato de sediar eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas – sem a obrigação de vencê-los – é algo para muito se orgulhar. A responsabilidade de organizar as competições esportivas, transmitir ao vivo para todo planeta e recepcionar as delegações dos países, toda imprensa internacional e os incontáveis turistas das mais diversas partes do globo, não é tarefa muito simples. É um empreendimento que envolve as três esferas da administração pública, juntamente com organizações privadas e a sociedade civil, além de exigir uma melhoria na rede nacional de transportes e na infraestrutura das cidades, de modo geral. Já que fatores como o crescimento econômico e o desenvolvimento social não foram suficientes para exigir a adoção de medidas para melhor equipar o país infraestruturalmente, que sejam a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Se um motivo era o que faltava, agora eles sobram!
Talvez, em parte nosso complexo de inferioridade se dê por não podermos usufruir de uma boa disponibilidade de serviços públicos, tão comum nos países centrais. Por termos sido sempre explorados por governos e oligarquias e nos contentarmos com as migalhas que nos são oferecidas. Mas agora, chegou a vez do Brasil, a vez do povo brasileiro. Não podemos ficar de braços cruzados e perder essa oportunidade histórica de fazer a diferença nas nossas vidas e de nossos descendentes, de mudarmos de vez a forma negativa com a qual nos enxergamos. Vamos cobrar de nossos governantes melhorias significativas em nossas cidades, não apenas obras de maquiagem. Um exemplo do que devíamos esperar desses eventos globais foi descrito pela primeira vez em 1996, época da primeira candidatura da Cidade Maravilhosa à sede dos Jogos Olímpicos de 2004. O sociólogo Herbet de Souza, o Betinho, elaborou uma agenda social para a cidade com cinco metas correspondentes aos anéis olímpicos. São elas: favelas urbanizadas; educação de qualidade; ninguém morando nas ruas; alimentação de qualidade para todas as crianças e jovens; e esporte e cidadania jogando no mesmo time. Tais metas, mesmo após 13 anos, se fazem atuais e deveriam ser adotadas em todas as cidades desse país como um bom ponto de partida.
Eu que cresci ouvindo que o Brasil seria o país do futuro, decidi que o futuro chegou. É a hora e a vez do povo brasileiro. Façamos de tudo para que as oportunidades não sejam desperdiçadas. Todas as nações possuem algo que não lhes causa orgulho ou mesmo que as envergonhe, inclusive a nossa. Mas ao invés de esconder nossas mazelas, por que não as encarar? Em resumo, caberá a nós decidir: aproveitar o momento e proporcionar um salto qualitativo na vida de nosso povo; ou fazer um espetáculo maravilhoso para “inglês ver".
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